quinta-feira, 8 de março de 2012

Crônica - Estátua Viva.

A estátua humana.
O dia a dia frenético que a cidade nos impõe também acaba nos privando de certas sutilezas que farão falta no futuro.
A estátua humana é uma.
Alí, na Costa Pereira, na frente de uma famosa lanchonete que vende garapa, estava ele.
Parado, estático, pintado de prata e sumariamente ignorado pela imensa maioria dos transeuntes estava um ator fazendo uma performance de estátua viva.
Os movimentos que surgiam após moedas cairem na caixa de sapato azul aos seus pés eram milimetricamente pensados. Mais parecia uma máquina, sem sorrisos ou olhar.
Porém, quase ninguém parava para notar tais sutilezas.
A caixa de sapato azul não tinha mais que uma dezena de moedas. Com isso, os pequenos movimentos e alteração de postura eram mínimos... O povo sequer notava que aquela estátua era um homem.
Um ator.
Um talentoso ator, diga-se de passagem.
Mesmo quando uma criança o encarou durante vários minutos não houve movimento - na verdade, houve sim, o da mãe, que puxou fortemente o braço do menino e disse:
    - Pare de ficar parado aí à toa.
Será que ela percebeu que aquele menino era o único que estava apreciando e dando valor ao trabalho de um artista?
Que em sua inocência ele fez mais ao ego da estátua que todos os centenas que apenas passaram?
Se não, o proprio menino se encarregou de chamar atenção da mãe ao apontar para a estátua e mostrar a caixa de sapatos azul.
Ela estranhou. Demorou para entender o que o menino dizia... Se enervou várias vezes o puxando, mas ele se recusou a sair sem antes colocar uma moeda na caixa.
A mãe balançou a cabeça, mas o menino estava irredutível.
 - Quero ver a estátua mexer - Ele disse
E ela concordou. Tirou da carteira uma moeda dourada de R$1,00 e deu ao menino. Ele correndo e sorrindo, colocou a moeda e viu a estátua se mexer.
E sorriu mais.
E mais.
A mãe, apressada, reclamou do dinheiro gasto a toa...
Mas naquela tarde na Costa Pereira, um menino de não mais de 10 anos ensinou uma lição que poucos conhecem.
Que muitos eruditos ignoram...
O menino ensinou que parar e olhar é mais do que apenas ver
Por que centenas olharam e não viram.
Aquele menino fez uma estátua feliz.

A casa.


Ah, doce casa...
Tão bela e pequena, aconchegante e aprazível. 
O lar de uma familia comum, de pessoas comuns e desejos comuns.
Lugar de alegrias corriqueiras, crianças aventureiras que fazem da sala um campo de futebol.
Local do sono do vovô, da cozinha da mamãe, onde sempre ha uma agua quentinha na lareira para aquele cafezinho para as visitas...
E são tantas.
Amigos, parentes, conhecidos... Ou apenas pessoas que vem para provar os quitutes que o papai faz com goiaba. 
Sim, nessa casa o papai ajuda a mamãe na cozinha e ainda faz os doces, bolos e biscoitos de goiaba.
E eu, apenas mais um que aqui passo, só posso nesse compasso, admirar essa atmosfera bucólica e apaixonante.
E voltar o quanto antes para comer os biscoitos e tomar aquele cafezinho.
Porém, mesmo que a maioria não saiba, essa é uma família de trabalhadores. 
As crianças que acordam cedo para ir a escola, antes de irem, cumprem pequenos afazeres como recolher ovos, dar de comer aos animais e ordenhar mimosa, a vaca. 
Ao pai e avô, homens da terra, cabe ir para a lavoura, capinando, cuidando do pomar de goiabas que é o orgulho da família e parte fundamental de seu sustento, através dos quitutes feitos pelo pai, famosos em toda região.
E coordenando tudo isso, dando a tranquilidade, segurança e amor está ela, a mãe. Dona dos melhores sorrisos, imensos abraços e a força que todos precisam para vencerem dia após dia.
Com a chaminé...
Com os quitutes de goiaba...
E aquele cafézinho.